terça-feira, 25 de agosto de 2009

MEU TRABALHO APRESENTADO NO CURSO: NA ROTA DAS NASCENTES - EAPE/2008


A PRÉ-HISTÓRIA DA REGIÃO DO DISTRITO FEDERAL

O homo-cerratensis: os caçadores coletores 8.000 Ap; as populações ceramistas 2.000 Ap.

O estudo da Pré-História da região do Distrito Federal, assim como o do Brasil, ainda é um vasto campo a ser explorado.
A Pré-história da América continua cheia de lacunas e por isso ainda muito questionável, assim como, não menos, é a forma de subsistência dos homens arcaicos no Planalto Central Brasileiro. Com características que a diferem da ocupação prolongada de grutas e cavernas configuradas nas paisagens clássicas da arqueologia européia, por aqui esta se mostrou de forma diferente, ocupações esporádicas, porém, ricas em objetos líticos e desenhos rupestres.
As pesquisas arqueológicas sistemáticas no Brasil Central surgiram em 1972, partindo do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) da Universidade Católica de Goiás e do Projeto Anhangüera de Arqueologia (1975), vinculado à Universidade Federal de Goiás. A Universidade de Brasília não atua na área de arqueologia.
Os projetos desenvolvidos naquele contexto caracterizavam-se por abranger grandes extensões, variando de 35.000Km2 a 70.000Km2. O objetivo era obter dados comparáveis e complementares aos dos demais do país que se encontravam em estágios mais avançados de pesquisa. Os procedimentos de campo nos sítios abertos tinham como objetivos a delimitação da superfície e a observação de sua morfologia. No entanto, conforme destacam Schmitz et al.(1982,p.9),

Nem em todos os sítios foi possível delimitar toda a extensão da deposição arqueológica por se encontrar parcialmente em pastos ou vegetação de cerrado e mata. Em alguns dos sítios, a ação prolongada do arado impossibilitava a demarcação de concentrações cerâmicas significativas.
Os resultados obtidos limitavam-se a descrições, classificações e generalizações, utilizadas para a definição e classificação das “tradições”e “fases”arqueológicas. Existe uma série de questionamentos acerca da utilização das categorias – fases e tradições(Prous,1982; Wust,1993, entre outros) -, uma vez que foram “importadas”da pesquisa americana e aplicadas num contexto distinto.

Os Sítios Arqueológicos de Ponte Alta(Gama), Córrego Melchior(Taguatinga) e do Rio Descoberto.


A região do Distrito Federal possui características para ser considerada como área potencial de povoamento pré-histórico. A Localização centralizada dava a região, no mínimo, a qualidade de caminho inevitável aos habitantes do passado remoto. Podemos citar também o fenômeno de Águas emendadas e os diferenciados ecossistemas se alternando, tornando a região atrativa para as espécies inclusive a humana.
Em 1991, o arqueólogo Eurico Teófilo Miller, encontrou dois sítios pré-históricos no Distrito Federal, na região do Gama, nas cabeceiras do córrego Ipê, hoje Universidade Holística e Cidade da Paz, neles foram encontrados restos de cerâmica e artefatos de pedra(líticos), espalhados em uma área de quase 3000m2, ,estes últimos, mais antigos, misturou-se aos restos cerâmicos. Todos esses sítios do Gama apenas foram detectados, mas não escavados. Considerando ter aquela região um ambiente muito pouco favorável a ocupação humana, foram encontrados nada menos do que seis sítios pré-históricos, então, podemos supor a existência de muitos outros em ambientes favoráveis do Distrito Federal.
No início de 1993, o Dr. Miller, descobre em Taguatinga, cinco sítios pré-cerâmicos, na área do córrego Melchior, e que talvez, de quando em quando, eram reocupados. Durante 1994, mais 16 sítios arqueológicos foram encontrados na área do Rio Descoberto. Nove eram de grupos pré-cerâmicos, dois de cerâmicos e cinco taperas de fazendas coloniais.
Em caráter de hipótese alguns desses sítios pré-cerâmicos poderiam datar de 7.000 a 7.500 anos de idade, data que coincide com a instauração do atual ótimo climático da região.
Uma hipótese muito aceita é que poderiam ter convivido no Distrito Federal duas culturas indígenas distintas. Aquela antiqüíssima de caçadores pré-cerâmicos, e outra, de apenas mil anos, e ambas chegando até a invasão colonizadora.
Existem muitas questões a serem respondidas e que necessitam de escavações e pesquisas.
Antes das pesquisas pioneiras do Dr. Miller no Distrito Federal, foram registrados grandes progressos na pesquisa arqueológica de sítios e abrigos pré-históricos no vizinho município de Formosa. Segundo uma resenha dos professores Pedro Ignácio Schmitz e Altair Sales Barbosa (1984), cadastram-se ali cerca de 29 pequenas grutas, complexo esse inserido em ecossistema de cerrado com mata próxima.


CONCLUSÃO

“Afinal, quem eram esses pré-históricos do Gama, de Taguatinga, de Formosa, de Unaí, do Vão do Paranã, de Brasilinha? Em que época viveram? Que seqüências de gerações abrangeram? O que queriam transmitir ou expressar com seus desenhos e petróglifos? Quanto do sangue desses seres que viveram há mais de 10 mil anos pulsa, em maior ou menor porção, no corpo dos brasileiros?
Questões irrespondíveis nesta quadra da história, mas que algum dia serão pelo menos adequadamente formuladas. E como sempre acontece, essas boas perguntas representarão pelo menos a metade das boas respostas equivalentes.
Perdoe-nos o leitor por tantas vaguidões, que no decurso de futuros anos estarão melhor superadas, abrindo-se para cenários inimagináveis hoje.”
HISTÓRIA DA TERRA E DO HOMEM NO PLANALTO CENTRAL – PAULO BERTRAN

Hoje, quando partimos para a pesquisa bibliográfica pertinente a pré-história da região do Distrito Federal, nos deparamos com uma grande lacuna, não mais que meia dúzia, de obras tratam do assunto de relevância inquestionável. O campo para ser explorado é muito vasto e o interesse quando abordamos o tema em qualquer uma das esferas acadêmicas é surpreendente, assistimos um verdadeiro fascínio, um deslumbramento por parte de todos e as perguntas vão além, muito além, do nosso desejo em elucidá-las.
Motivados pelo fascínio que o assunto provoca em todos que tem a oportunidade de tomar conhecimento das fontes: sítios arqueológicos com desenhos e petróglifos, toponímia indígena do Distrito Federal e proximidades e da literatura existente, o meio acadêmico se encontra perfeitamente preparado para provocar nas instituições, principalmente a UNB o desejo natural de investir com toda a urgência e dedicação no estudo da arqueologia do Distrito Federal e região.
Os questionamentos de Paulo Bertran, após duas décadas, ainda persistem. Isto nos instiga e também nos traz indignação, temos o dever de deixar respostas para todas estas questões e um quadro favorável aos futuros interessados pelo assunto assim como Paulo Bertran e seus colaboradores o fez nas últimas três décadas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PESQUISADORES ENCONTRAM EM RESERVA BIOLÓGICA DO DF OBJETOS FEITOS PELO HOMEM PRÉ-HISTÓRICO

Pablo Rebello - CORREIO BRAZILIENSE 23/08/2009
Peças achadas durante levantamento para instalação de tubulação: materiais trabalhados em pedra serviam como pontas de lança e para moer alimentos e cortar couroDa escuridão das noites ancestrais, quando o fogo e os demais fenômenos naturais ainda eram motivos de espanto e assombro, a humanidade começou a dar os primeiros passos rumo à civilização e ao mundo moderno. Restaram poucos vestígios daquele tempo perdido. São sinais da passagem de um povo primitivo por uma terra até então inexplorada e marcada por mudanças climáticas e intempéries. Alguns desses rastros foram descobertos muito recentemente. Como no caso de 17 objetos encontrados na Reserva Biológica de Contagem (Rebio), ao lado do Parque Nacional de Brasília.Pedras moldadas há mais de 8 mil anos por mãos humanas revelam a passagem de homens primitivos pelo Planalto Central do Brasil, em época pré-histórica. São literalmente do tempo da pedra lascada. Os materiais foram encontrados em setembro do ano passado em três pontos diferentes da reserva. Os pesquisadores responsáveis pelos achados acreditam que descobertas maiores podem estar abaixo da superfície dos três sítios arqueológicos identificados na Rebio. Mas as negociações para explorar o que mais pode estar escondido debaixo da terra ainda estão em andamento.Equipe de seis pessoas do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), da Universidade Católica de Goiás (UCG), em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), aparece à frente dos trabalhos. Na ocasião, eles faziam o levantamento da área circundante de uma tubulação de água da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), que abastece Sobradinho I e II. O estudo durou quatro meses e era considerado obrigatório para o projeto da empresa de troca da tubulação. Ao final, o grupo fez um relatório extenso com a análise das descobertas e as recomendações de futuras explorações das três áreas catalogadas.“Somente um trabalho de escavação poderá indicar se as pedras fazem parte de uma ocorrência isolada ou se fazem parte de sítios de grande proporções”, ressaltou Júlio César Rubin de Rubin, diretor do IGPA. “O estabelecimento de cada sítio representa uma possibilidade de preservar o patrimônio histórico e de desenvolver a ciência, com o estabelecimento da cronologia dos povos que viveram naquela época e dos instrumentos que usavam para sobreviver”, continuou. As 17 peças encontradas, que poderiam servir tanto para caçar como ajudar a moer alimentos, estão em Goiânia.LimitesPara a diretora da Rebio, Isabela Deiss de Farias, as descobertas não só revelam o potencial guardado na reserva como demonstra a importância de se proteger a região de contatos externos. Apesar de não ser aberta para visitações, a reserva sofre com a proximidade de condomínios, propriedades privadas e do uso indevido de suas áreas por terceiros. “Não se trata apenas da proteção da biodiversidade que aqui existe, mas da nossa própria história, como esses achados nos mostram”, afirmou.O desrespeito aos limites da reserva pode ser percebido em algumas estradas de terra que cortam os 3.460 hectares da área de proteção ambiental integral. Ao levar a equipe do Correio até os sítios arqueológicos, as analistas fizeram diversas paradas no meio do caminho para recolher latas de cerveja e embalagens abandonadas. Sinais da passagem de seres humanos que aparentam ter pouca preocupação com a manutenção da biodiversidade.“Tem gente que vê a reserva como quintal de casa. Invade o terreno para andar de bicicleta, de moto, fazer churrasco. Chega a queimar lixo e provocar incêndios que ameaçam tudo que protegemos”, apontou Isabela. Desde o início do período de seca, houve 24 focos de incêndio. A maioria provocada por ação humana. A área de proteção ambiental se encontra em uma região que apresenta grande diversidade de terrenos, com a existência de vales e morros.O sítio arqueológico visitado pela reportagem se encontra no alto de um morro, local rico em formações rochosas, espécies vegetais e animais. De lá, o homem primitivo tinha uma visão da imensidão do mundo que se estendia por um horizonte montanhoso e repleto de chapadas, bem diferente da área onde seus descendentes construíram Brasília. Hoje, a visão do horizonte ainda existe. Mas compete com a expansão dos condomínios, das fábricas de cimento e dos centros urbanos.Riqueza naturalA área da Rebio conta com sete tipos diferentes de vegetação: cerrado, cerrado ralo, cerrado rupestre, campo sujo, campo limpo, mata de encosta e mata de galeria. Além disso, conta com diversas nascentes e mananciais de água, dos quais se destacam o córrego Paranoazinho e o Ribeirão da Contagem, que abastecem Sobradinho I e II.PreciosidadesOs três sítios arqueológicos apresentaram material lítico lascado em quartzito. As lascas possuem tamanhos variados de formas e tamanhos. Boa parte dos achados apresenta cor avermelhada. Alguns foram encontrados em superfície, enquanto outros apareceram em sondagens de até 20cmde profundidade.» Travessia de escravos e ouroA área protegida pela Rebio não serviu de lar apenas para os homens pré-históricos do Planalto Central. Um estudo feito pelo historiador Wilson Vieira Júnior entre 2005 e 2007 demonstrou que a região contou com movimentação intensa de pessoas entre os séculos 18 e 19. Inclusive, o nome Contagem vem da constatação que funcionavam na reserva dois postos fiscais da coroa portuguesa, que controlavam o fluxo de viajantes pelo local. “Eles faziam a contagem dos escravos e mercadorias, além de policiar a área”, destacou Wilson.O historiador ainda explicou que por ali passava parte da Estrada Real para a Bahia. “Vinha para cá geralmente quem ia fazer comércio, sobretudo de ouro. Daqui, as pessoas seguiam para pontos de mineração em cidades goianas, como Pirenópolis, Goiás Velho, Corumbá e Jaraguá”, contou. Os postos fiscais fecharam as portas em 1822, com o fim do ciclo do ouro no Brasil.Para realizar o levantamento, o historiador usou relatos de viajantes dos séculos 18 e 19, além de mapas antigos que ilustravam a passagem da Estrada Real. Mas a área continuou movimentada. “O lugar onde ficavam os postos virou uma fazenda por volta de 1850. Apesar da casa, que era de barro, não existir mais, permanecem outros sinais de sua existência. Como um quintal e valas para impedir a fuga do gado”, revelou Wilson.
Assista o vídeo desta reportagem

sexta-feira, 21 de agosto de 2009


PRÉ-HISTÓRIA NA REGIÃO DO DF

Para estudar a ocupação humana dos primeiros habitantes do cerrado, temos que recorrer à arqueologia, uma vez que não existem fontes escritas sobre esse tema.
A ocupação humana na região do DF, segundo Paulo Bertran, remonta ao início da época Holocena (12.000 AP), caracterizada pelo recuo da glaciação com todas as suas consequências: “ Com o derretimento do gelo o nível do mar sobe, a temperatura e a umidade aumentam e se produz a tropicalização do ambiente. Aparentemente isto não ocorre de forma unilinear, mas com oscilações, que, no todo, representam um crescimento do calor, da umidade e do nível do mar, até alcançar o máximo no altitermal ou ótimo climático europeu.” (1)
Vários estudos, realizados por pesquisadores do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) da Universidade Católica de Goiás, mostram uma grande concentração de vestígios deixados pelos caçadores coletores pré-históricos no Distrito Federal, e em cidades próximas como Formosa GO, Planaltina/GO.
Os arqueólogos Paulo Jobim e Sibeli Viana, em texto intitulado “Breve Histórico da Arqueologia de Goiás”, publicado no Livro “Índios de Goiás”, revelam que em outros municípios goianos, a exemplo de São Domingos, Niquelândia, Colinas do Sul, Santa Cruz (sul de Goiás) e Hidrolândia, também foram encontrados inúmeros vestígios desses caçadores, entretanto a maior concentração deles encontram-se no Vale do Paranã e região de Serranópolis/Caiapônia, no sudoeste de Goiás, divisa com o Mato Grosso do Sul.(2)
Inicialmente, falaremos sobre dois sítios arqueológicos, localizados no Vale do Paranã, no município de Formosa/GO: A Toca da Onça e a Fazenda Bisnau.

1 - TOCA DA ONÇA
O Sitio Arqueológica Toca da Onça, localiza-se em uma fazenda no vale do Paranã, próximo ao Salto do Itiquira, na cidade de Formosa/GO, contendo um belo rio de pedras, com cachoeiras e uma exuberante paisagem. No interior de suas rochas encontram-se dezenas de grutas com inscrições rupestres desenhadas nas suas paredes.
Na interpretação de Paulo Bertran, são inscrições de “motivos abstratos, com fortes tendências para representações geométricas. Alguns desenhos lembram sistemas de contar. O mais notável porém são as representações de estrelas visíveis no céu do planalto há milhares de anos, sugerindo que outros símbolos a elas associados possam ser contagens de conjunções astronômicas. Para povos caçadores nômades, longas peregrinações precisavam de se orientar pela posição das estrelas no céu.


2 - PEDRA DO BISNAU
O Povoado do Bisnau localiza-se depois de Formosa, próximo a BR_20, onde, uma de suas fazendas abriga um grande lajedo de pedra calcária, que contém na sua superfície inúmeras inscrições, talhadas em baixo relevo, cujo significado sugere representações da chamada tradição astronômica.
“Com certa imaginação podemos visualizar nesses astrônomos do Planalto Central a representação de uma constelação da “Ema” ou da “Anta”, com pontos interligando astros maiores com menores... Na parte mais baixa do lagedo, pode-se visualizar na própria rocha cor-de-rosa, resíduos fósseis (ritmos) daquele grande mar interno de milhões de anos atrás, hoje com suas areis solidificadas".(3)
No Bisnau também tem um belo rio com cachoeiras, cuja região é cortada por um muro de pedras, possivelmente construído pelos escravos, nos séculos XVIII e XIX, para dividir às Sesmarias (enormes fazendas colônias)..

REFERÊNCIAS(1) Memorial das Idades do Brasil. Paulo Bertran e Graça Fleury. Brasília/DF: Verano Editora e Comunicação Ltda, 2004, p.28.
(2) Ìndios de Goiás – uma perspectiva histórico-cultural. Marlene Castro Ossami Moura (Coord.). Goiânia-GO: Editora UCG, 2006.(3)Memorial das Idades do Brasil. Paulo Bertran e Graça Fleury. Brasília/DF: Verano Editora e Comunicação Ltda, 2004, p.39.
Do site: Estrada Geral dos Sertões

VISITA AO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GENTIO II EM UNAÍ/MG


Em out/2009, eu e mais alguns pesquisadores visitamos o SÍTIO ARQUEOLÓGICO GENTIO II, localizado na cidade mineira de Unaí. Apreciamos belas pinturas rupestres em uma caverna que, na década de 70, foi encontrada uma múmia que foi levada para o Museu Arqueológico do Rio de Janeiro. O lugar é lindo, curtam as fotos