segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PESQUISADORES ENCONTRAM EM RESERVA BIOLÓGICA DO DF OBJETOS FEITOS PELO HOMEM PRÉ-HISTÓRICO

Pablo Rebello - CORREIO BRAZILIENSE 23/08/2009
Peças achadas durante levantamento para instalação de tubulação: materiais trabalhados em pedra serviam como pontas de lança e para moer alimentos e cortar couroDa escuridão das noites ancestrais, quando o fogo e os demais fenômenos naturais ainda eram motivos de espanto e assombro, a humanidade começou a dar os primeiros passos rumo à civilização e ao mundo moderno. Restaram poucos vestígios daquele tempo perdido. São sinais da passagem de um povo primitivo por uma terra até então inexplorada e marcada por mudanças climáticas e intempéries. Alguns desses rastros foram descobertos muito recentemente. Como no caso de 17 objetos encontrados na Reserva Biológica de Contagem (Rebio), ao lado do Parque Nacional de Brasília.Pedras moldadas há mais de 8 mil anos por mãos humanas revelam a passagem de homens primitivos pelo Planalto Central do Brasil, em época pré-histórica. São literalmente do tempo da pedra lascada. Os materiais foram encontrados em setembro do ano passado em três pontos diferentes da reserva. Os pesquisadores responsáveis pelos achados acreditam que descobertas maiores podem estar abaixo da superfície dos três sítios arqueológicos identificados na Rebio. Mas as negociações para explorar o que mais pode estar escondido debaixo da terra ainda estão em andamento.Equipe de seis pessoas do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), da Universidade Católica de Goiás (UCG), em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), aparece à frente dos trabalhos. Na ocasião, eles faziam o levantamento da área circundante de uma tubulação de água da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), que abastece Sobradinho I e II. O estudo durou quatro meses e era considerado obrigatório para o projeto da empresa de troca da tubulação. Ao final, o grupo fez um relatório extenso com a análise das descobertas e as recomendações de futuras explorações das três áreas catalogadas.“Somente um trabalho de escavação poderá indicar se as pedras fazem parte de uma ocorrência isolada ou se fazem parte de sítios de grande proporções”, ressaltou Júlio César Rubin de Rubin, diretor do IGPA. “O estabelecimento de cada sítio representa uma possibilidade de preservar o patrimônio histórico e de desenvolver a ciência, com o estabelecimento da cronologia dos povos que viveram naquela época e dos instrumentos que usavam para sobreviver”, continuou. As 17 peças encontradas, que poderiam servir tanto para caçar como ajudar a moer alimentos, estão em Goiânia.LimitesPara a diretora da Rebio, Isabela Deiss de Farias, as descobertas não só revelam o potencial guardado na reserva como demonstra a importância de se proteger a região de contatos externos. Apesar de não ser aberta para visitações, a reserva sofre com a proximidade de condomínios, propriedades privadas e do uso indevido de suas áreas por terceiros. “Não se trata apenas da proteção da biodiversidade que aqui existe, mas da nossa própria história, como esses achados nos mostram”, afirmou.O desrespeito aos limites da reserva pode ser percebido em algumas estradas de terra que cortam os 3.460 hectares da área de proteção ambiental integral. Ao levar a equipe do Correio até os sítios arqueológicos, as analistas fizeram diversas paradas no meio do caminho para recolher latas de cerveja e embalagens abandonadas. Sinais da passagem de seres humanos que aparentam ter pouca preocupação com a manutenção da biodiversidade.“Tem gente que vê a reserva como quintal de casa. Invade o terreno para andar de bicicleta, de moto, fazer churrasco. Chega a queimar lixo e provocar incêndios que ameaçam tudo que protegemos”, apontou Isabela. Desde o início do período de seca, houve 24 focos de incêndio. A maioria provocada por ação humana. A área de proteção ambiental se encontra em uma região que apresenta grande diversidade de terrenos, com a existência de vales e morros.O sítio arqueológico visitado pela reportagem se encontra no alto de um morro, local rico em formações rochosas, espécies vegetais e animais. De lá, o homem primitivo tinha uma visão da imensidão do mundo que se estendia por um horizonte montanhoso e repleto de chapadas, bem diferente da área onde seus descendentes construíram Brasília. Hoje, a visão do horizonte ainda existe. Mas compete com a expansão dos condomínios, das fábricas de cimento e dos centros urbanos.Riqueza naturalA área da Rebio conta com sete tipos diferentes de vegetação: cerrado, cerrado ralo, cerrado rupestre, campo sujo, campo limpo, mata de encosta e mata de galeria. Além disso, conta com diversas nascentes e mananciais de água, dos quais se destacam o córrego Paranoazinho e o Ribeirão da Contagem, que abastecem Sobradinho I e II.PreciosidadesOs três sítios arqueológicos apresentaram material lítico lascado em quartzito. As lascas possuem tamanhos variados de formas e tamanhos. Boa parte dos achados apresenta cor avermelhada. Alguns foram encontrados em superfície, enquanto outros apareceram em sondagens de até 20cmde profundidade.» Travessia de escravos e ouroA área protegida pela Rebio não serviu de lar apenas para os homens pré-históricos do Planalto Central. Um estudo feito pelo historiador Wilson Vieira Júnior entre 2005 e 2007 demonstrou que a região contou com movimentação intensa de pessoas entre os séculos 18 e 19. Inclusive, o nome Contagem vem da constatação que funcionavam na reserva dois postos fiscais da coroa portuguesa, que controlavam o fluxo de viajantes pelo local. “Eles faziam a contagem dos escravos e mercadorias, além de policiar a área”, destacou Wilson.O historiador ainda explicou que por ali passava parte da Estrada Real para a Bahia. “Vinha para cá geralmente quem ia fazer comércio, sobretudo de ouro. Daqui, as pessoas seguiam para pontos de mineração em cidades goianas, como Pirenópolis, Goiás Velho, Corumbá e Jaraguá”, contou. Os postos fiscais fecharam as portas em 1822, com o fim do ciclo do ouro no Brasil.Para realizar o levantamento, o historiador usou relatos de viajantes dos séculos 18 e 19, além de mapas antigos que ilustravam a passagem da Estrada Real. Mas a área continuou movimentada. “O lugar onde ficavam os postos virou uma fazenda por volta de 1850. Apesar da casa, que era de barro, não existir mais, permanecem outros sinais de sua existência. Como um quintal e valas para impedir a fuga do gado”, revelou Wilson.
Assista o vídeo desta reportagem

2 comentários:

  1. Que blog super interessante!!! Gostei da iniciativa! Temos que divulgar para os alunos porque para eles vai ser muito bom. Parabéns! Isabel

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  2. Muito bacana o blog! temos desenvolvido alguns trabalhos no DF e seria interessante trocar informações.
    www.al-consultoria.blogspot.com
    Edilson

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